Entramos numa época do ano que se caracteriza por uma mudança no estado do tempo, mas também no estado de espírito das pessoas, porque estas não são, de todo, imunes à natureza que as rodeia. A sabedoria popular de há muito que criou um ditado que caracteriza este período do ano: «Março, marçagão, manhãs de Inverno, tardes de Verão».
O Equinócio da Primavera (20/mar)
Na madrugada do dia 20 do mês que agora começa, o Inverno dá lugar à Primavera, num fenómeno conhecido como “equinócio”, em que o Sol cruza o plano do equador celeste. Na etimologia da palavra “equinócio”, encontramos a tradução literal “em partes iguais”, que foi provavelmente baseada na duração de dia e noite que, nesse preciso momento, é precisamente igual a 12 horas.
No hemisfério norte, este evento acontece em março e tem o nome de “Equinócio da Primavera”. Na Primavera chegam as temperaturas mais amenas e o despertar de plantas e flores, de cores suaves ou garridas. Há também o retorno de aves migratórias, como as cegonhas e as andorinhas, que logo recomeçam os trabalhos de construção dos ninhos que são verdadeiras obras de arte.
A chegada da Primavera surge em rituais e celebrações pois representa, histórica e figurativamente o renascer da natureza, da fertilidade e da abundância, em oposição à estação que agora termina, de escassez e desconforto.
Por toda a Europa, nesta altura do ano, os povos antigos praticavam rituais e celebrações pagãs com o nome de “Ostara” onde, através do simbolismo do fogo e das fogueiras, dos ovos e das lebres, celebravam e exaltavam o retorno do sol e o renascer da natureza, a transformação e as novas vidas, a fertilidade e a multiplicidade.
A Semana Santa (24/mar a 31/mar) e o Domingo de Páscoa (31/mar)
É também nesta estação do ano que se celebra a Páscoa, um feriado religioso que adquire importância particular em Portugal pela sua tradição e cultura de herança cristã.
Este é um dia móvel no nosso calendário. Desde o concílio de Niceia, este dia é sempre celebrado no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorra após o equinócio da Primavera (se no hemisfério norte) ou do Outono (se no hemisfério sul). Este ano o Domingo de Páscoa ocorre a 31 de Março.
A Semana Santa tem início 7 dias antes do Domingo de Páscoa, ou seja, com o Dia de Ramos.
E 40 dias antes do início da Semana Santa ocorre o Dia de Carnaval ou Entrudo (ou seja, sempre a uma Terça-Feira).
Esse período de 40 dias após o Carnaval é conhecido como a “Quaresma”, ao qual está associado o recolhimento, a abstinência, o sacrifício.
Como contraponto a esse período, a Páscoa e, principalmente, o Domingo de Páscoa, representam e celebram a celebração da vida.
Em Portugal existem várias tradições ligadas a este dia, mas também aos dias que o antecedem, com rituais que simbolizam os últimos dias, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.
A Semana Santa da cidade de Braga, uma das mais famosas festas pascais, a qual se estende por vários dias, deixa a cidade toda decorada a preceito.
Durante a semana que antecede o Domingo de Páscoa desenvolvem-se diversas representações de momentos bíblicos, como a “Última Ceia” e o “Lavar de pés”, além das procissões da “Via Sacra” e do Domingo de Ramos.
[localização de Braga via googlemaps: https://maps.app.goo.gl/HTZvxctV5eUwAHeG9]
O Compasso Pascal (31/mar ou 01/abr ou 07/abr)
No Domingo de Páscoa, em qualquer cidade ou povoação em Portugal, podemos ver e acompanhar o Compasso Pascal, uma tradição com registo de mais de 500 anos.
O termo “compasso” no sentido de "Visita Pascal" ou "Compasso da Visita Pascal" tem a sua origem na expressão latina "Crux cum passo Domino", a qual significa “Cruz em que o Senhor padeceu”, tomando a sua forma abreviada.
O padre (ou alguém por si delegado) e os mordomos que o acompanham (membros da comunidade), visitam cada casa que assim o deseje, abençoando o lar e todos os que lá vivem e oferecendo o crucifixo (artefato simbolizando a cruz em que Jeses Cristo foi crucificado) a beijar aos presentes.
O Compasso Pascal habitualmente decorre durante o Domingo de Páscoa, mas também poderá ocorrer na segunda-feira ou domingo seguinte, o denominado Domingo de Pascoela, se tal se revelar necessário e oportuno na comunidade.
Deixo aqui a recomendação de uma tradição sui generis: a travessia do Rio Homem, na freguesia de Fiscal, município de Amares.
Aqui, pese embora a existência, há várias décadas, de uma ponte a ligar as margens, subsiste a tradição de levar o compasso de barco até à outra margem, onde existirão cerca de duas dezenas de casas. Nos barcos seguem a cruz, o pároco, os mordomos e uma banda de música.
[localização de Fiscal via googlemaps: https://maps.app.goo.gl/QDo7GRH2Ah93UPhf6]
A Queima do Judas (30/mar)
No Sábado de Aleluia, o qual antecede o Domingo de Páscoa, as celebrações pagãs e cristãs confundem-se num evento com expressão em várias localidades do país, designado de “Queima do Judas”.
Aqui deixamos a recomendação de duas dessas localidades: Vila do Conde (município 30 km a norte do Porto) e Travassô (freguesia do município de Águeda, na zona centro do país).
[localização de Vila do Conde via googlemaps: https://maps.app.goo.gl/Knwoyb9VTDuFeZas9]
[localização de Travassô via googlemaps: https://maps.app.goo.gl/U5zqhrfQ3ubZjNJm9]
Nestas celebrações podemos assistir à encenação da expiação dos males e purificação da alma através do fogo, com espetáculos satíricos e pirotécnicos onde, no final, é queimado o “Judas”, a personagem que atraiçoou Jesus Cristo, na narrativa cristã, misturando assim culturas e costumes que sobrevivem aos tempos.
A Gastronomia da época
Nos dias do compasso pascal não é incomum ver vizinhos a deslocar-se de casa em casa para, assim, partilharem a bênção e, mais tarde, partilharem “comes e bebes” da mesa especialmente recheada para o efeito.
Como em todas as celebrações em Portugal, a comida está sempre presente com iguarias típicas de cada região do país.
Não quero correr o risco de elencar todas as opções (também não o conseguiria), mas o cabrito ou borrego assados no forno, os folares doces (região centro) ou salgados (região norte), os ovos de chocolate e as mil opções de amêndoas fazem parte de qualquer mesa da Páscoa em Portugal.
A Feira de Março (23/mar a 25/abr)
Outra sugestão para uma escapadinha, aqui bem perto, em Aveiro. Nesta cidade realiza-se, anualmente, a Feira de Março, que este ano ocorre entre os dias 23 de março e 25 de abril.
Atualmente esta feira passa por ser um parque de diversões temporário e uma mostra comercial do que se vai fazendo na região.
Mas a Feira de Março tem registo de se ter iniciado em 1434, ano em que foi dada autorização real para ser realizada a primeira feira franca (ou seja, uma feira onde os comerciantes não pagavam impostos) e, a partir daí, passou a realizar-se anualmente, no mês de março.
Adquiriu tanto sucesso e dinâmica que chegou até aos dias de hoje, transformando-se numa feira de referência da região, a nível cultural, de entretenimento e comercial.
[localização da Feira de Março em Aveiro via googlemaps: https://maps.app.goo.gl/5DbPQyk1XiqNtngE6]
Espero que possa desfrutar de muito que o mês de Março nos pode oferecer. Só tem que se disponibilizar e partir à descoberta destas sugestões... e de muitas outras mais. E não se esqueça de partilhar connosco o que descobrir!
Daniela Simões
Nota do Editor: a Daniela é uma das amigas e parceiras da MOURA MARQUES que regularmente convidamos para colaborar nos nossos artigos e temáticas do blog e newsletter.
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