O mercado imobiliário residencial tem registado um abrandamento significativo no volume de transações, mas sem variações significativas ao nível dos preços médios de venda.
A razão principal para este abrandamento assenta na evolução (crescente) da Euribor, desde a primeira metade de 2022, a qual teve como consequência um encarecimento do financiamento bancário concedido para a aquisição de habitação, ainda que mitigado pelos apoios governamentais excecionais às famílias e pelos mecanismos implementados de abertura à renegociação de crédito à habitação e oferta generalizada de taxa de juro fixa por parte da banca. Ora este aumento do custo do crédito à habitação tem como consequência a diminuição do recurso ao mesmo.
O número de transações imobiliárias está em queda desde o 4º trimestre de 2021, com acentuação da mesma a partir do 4º trimestre de 2022. No global a queda no setor residencial é de 22% (comparando o 1º semestre de 2023 com o 1º semestre de 2022), sendo de 24% nos usados e de 11% nos novos (dados do Instituto Nacional de Estatística, INE).
Esta redução da procura não está a gerar um impacto (no sentido descendente) dos preços de venda. Tal se conclui pelo facto de o Índice de Preços na Habitação do INE ter atingido um novo recorde no 2º trimestre de 2023, com o preço médio da habitação em Portugal a situar-se nos € 205.348.
Mas existe um comportamento diversificado dos vários segmentos de preço, em termos de evolução do número de transações, consoante esses segmentos sejam mais ou menos expostas ao custo do crédito à habitação. Mais concretamente, os segmentos médio-alto e alto, estão menos sujeitos à necessidade de recurso a financiamento bancário por parte dos compradores. Verifica-se também um aumento continuado do valor médio das avaliações bancárias, pelo que se conclui que, proporcionalmente, se estarão a vender casas com preços mais elevados. Ou seja, existe um efeito combinado (variação de preços e mix de casas vendidas) que justifica o aumento do preço médio da habitação em Portugal.
Volume de transações imobiliárias a nível nacional
![Fontes: grafismo da KW Portugal a partir de dados do I.N.E.](https://static.wixstatic.com/media/30e906_1f327bab9e64487eacca8b9953b552e0~mv2.png/v1/fill/w_980,h_322,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_1f327bab9e64487eacca8b9953b552e0~mv2.png)
O sentido ascendente do volume de transações imobiliárias, verificado desde 2013, teve um interregno no período de impacto mais forte da ‘pandemia viral (2020 e início de 2021), atingindo um ‘pico’ no 4º trimestre de 2021, após o que tem apresentado decréscimos sucessivos.
Quando comparado o 1º semestre de 2023 com o 1º semestre de 2022 apura-se uma queda de 22% no volume de transações imobiliárias do setor residencial.
De notar o maior ‘peso’ do volume de transações de imóveis novos nos anos de 2009 e 2010, por comparação com os anos posteriores a esse período.
Distribuição do volume de transações imobiliárias por grandes regiões
![Fontes: grafismo da KW Portugal a partir de dados do I.N.E.](https://static.wixstatic.com/media/30e906_fec259d0d35d4ab393724397e3adfc9e~mv2.png/v1/fill/w_980,h_343,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_fec259d0d35d4ab393724397e3adfc9e~mv2.png)
Todas as macro-regiões (acima indicadas) estão abaixo dos seus volumes máximos (atingidos por volta do final de 2021), com particular realce para a Área Metropolitana do Porto, a qual, no 2º trimestre de 2023, apresentou um volume muito aquém do já atingido anteriormente.
Valor global das transações imobiliária a nível nacional
![Valor global das transações imobiliária a nível nacional](https://static.wixstatic.com/media/30e906_de75d3aaf6314fd3a4ae2a708fa7aaf0~mv2.png/v1/fill/w_980,h_326,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_de75d3aaf6314fd3a4ae2a708fa7aaf0~mv2.png)
Este é um gráfico com uma evolução idêntica ao da evolução do volume de transações, mas neste é mais evidente o ‘peso’ em valor dos imóveis novos, dado terem um maior preço unitário face aos usados.
Distribuição regional do valor das transações imobiliárias
![Distribuição regional do valor das transações imobiliárias](https://static.wixstatic.com/media/30e906_a7e6e45ff29d456ebf5b0761d69394bc~mv2.png/v1/fill/w_980,h_334,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_a7e6e45ff29d456ebf5b0761d69394bc~mv2.png)
Se em termos de unidades transacionadas se verifica um diferencial elevado entre os dados do 2º semestre de 2023 e o ‘pico’ máximo já atingido em cada macro-região, em termos de valor global, esse diferencial é muito menor, dada a evolução dos preços unitários de venda.
Valor médio das transações imobiliárias a nível nacional
![Valor médio das transações imobiliárias a nível nacional](https://static.wixstatic.com/media/30e906_312603bc20334771acf29cc30cd9dae1~mv2.png/v1/fill/w_980,h_323,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_312603bc20334771acf29cc30cd9dae1~mv2.png)
Desde 2012 o preço médio de venda da habitação em Portugal tem vindo sistematicamente a subir, com exceção de um período em 2020 (efeitos da ‘pandemia viral’). No final do 2º trimestre de 2023 atingiu os € 205.348.
Valor médio das transações imobiliárias por região
![Valor médio das transações imobiliárias por região](https://static.wixstatic.com/media/30e906_f08e3dee5fce47568f45e173914f5fde~mv2.png/v1/fill/w_980,h_327,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_f08e3dee5fce47568f45e173914f5fde~mv2.png)
Lisboa, o Algarve e a Madeira concentram os imóveis de maior valor médio, sendo as regiões onde se concentra maioritariamente o segmento de luxo, capitalizado pelo turismo proveniente do estrangeiro.
Evolução histórica da Euribor (dados diários)
![Evolução histórica da Euribor (dados diários)](https://static.wixstatic.com/media/30e906_a22537674ece4da4a46ec50e33232389~mv2.png/v1/fill/w_980,h_335,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_a22537674ece4da4a46ec50e33232389~mv2.png)
Depois de vários anos com a Euribor negativa (desde 2015), na primeira metade de 2022 o Banco Central Europeu promove a sua subida com o objetivo de a utilizar como mecanismo de controlo indireto da inflação no espaço da Comunidade Europeia. As sucessivas subidas, até à data de hoje, colocam-na em máximos comparáveis com os de há 15 anos atrás (2008).
TAEG de novos contratos de crédito à habitação
![TAEG de novos contratos de crédito à habitação](https://static.wixstatic.com/media/30e906_3a32ec8b444f4276a6bb75b488fa12bb~mv2.png/v1/fill/w_980,h_323,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_3a32ec8b444f4276a6bb75b488fa12bb~mv2.png)
As subidas sucessivas na Euribor desde a primeira metade de 2022 elevou a TAEG (taxa anual efetiva global) dos novos contratos de crédito à habitação acima dos 6%.
Prestação média suportada (média dos contratos de CH concedidos nos últimos 3 meses)
![Prestação média suportada (média dos contratos de CH concedidos nos últimos 3 meses)](https://static.wixstatic.com/media/30e906_433d7b4f30024c2bb74f29e4044cf76f~mv2.png/v1/fill/w_980,h_327,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_auto/30e906_433d7b4f30024c2bb74f29e4044cf76f~mv2.png)
O objetivo de controlo da inflação (e dos efeitos nefastos da mesma sobre as economias europeias) levou ao aumento significativo da Euribor num curto espaço de tempo (de -0,65% em dezembro de 2021 a +3,65% em Agosto 2023). Ora isto gerou um aumento brutal nas prestações médias dos detentores de contratos de crédito à habitação: durante anos e anos a prestação média situou-se entre os €300 e €400, para ultrapassar os €600 em agosto de 2023.
A última subida da taxa de referência por decisão do BCE ocorreu em 14 de setembro de 2023 (subida de 25 pontos base). A expetativa atual é de que possa existir uma interrupção nas subidas sucessivas da Euribor, a que se possa seguir um decréscimo na mesma, por forma a aliviar a pressão sobre a procura no setor imobiliário. No entanto, embora os analistas económicos apontem para uma descida generalizada nas taxas de inflação dos países de U.E. para final deste ano e início do próximo, não acreditam que a taxa de juro de referência se possa vir a situar em valores próximos daqueles em que esteve entre 2012 e 2022.
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