top of page

Camino de Hierro

Foto do escritor: Marco Moura MarquesMarco Moura Marques

Atualizado: 26 de mai. de 2024

Durante o último Verão a expetativa era grande... Afinal este era um trilho que se encontrava encerrado há algum tempo e que reabriria ao público a partir de setembro.


O “Camino de Hierro”. Ou portuguesmente falando, o “Caminho de Ferro”. Trata-se de um troço que liga a estação La Fregeneda ao cais de Vega Terrón, em terras fronteiriças do município de Salamanca, em Espanha. Este troço é apenas uma pequena parte (17 km) de um total de 77 km que possui o ramal espanhol da chamada Linha do Douro. Este trilho fica em pleno Parque Natural das Arribas do Douro e acompanha o rio Águeda até à sua foz, em pleno Rio Douro.


A linha começa em La Fuente de San Esteban, onde se junta à linha Medina del Campo-Salamanca-Fuentes de Oñoro. Na localidade fronteiriça de Barca d'Alva, a linha liga ao troço português que segue em direção ao Porto. Desta forma, a segunda maior cidade portuguesa ficou ligada a Salamanca e, por extensão, à linha de França que chega a Medina del Campo.



Desafiado pelo meu primo, efetuamos a inscrição como participantes numa caminhada com algumas semanas de antecedência. Existe um cuidado muito grande por parte das autoridades espanholas que gerem este trilho em limitar o número de pessoas que o percorrem a cada momento. Porque o mesmo dispõe de fauna e flora únicas, bem como de uma património material e cultural precioso.


A caminhada estava prevista para um domingo de setembro, com início às 8 da manhã, hora espanhola. Assim sendo, tratamos de reservar alojamento para a noite sábado em La Fregeneda, para nos apresentarmos bem dormidos e descansados na manhã seguinte. Sim, que a previsão era de caminharmos 17 km durante um tempo aproximado de 6 horas


Partimos na manhã de sábado, num carro com uma comitiva de cinco, com o objetivo de chegarmos ao alojamento, em La Fregeneda, ao início da tarde.


Imagem de almoço de 5 pessoas

Como bons portugueses em terras de Espanha, claro que fizemos uma pausa na viagem, para almoço num restaurante de um dos pequenos vilarejos que encontramos no caminho.


Missão cumprida: 'tapas' diversas e acumulação de energia prolongada até ao dia seguinte.


Paisagem de montanhas, vales e rio junto à fronteira

À medida que nos aproximamos da fronteira, o céu foi ficando cada vez mais 'fechado'.


As previsões para o dia seguinte, o da caminhada, apontavam para aguaceiros, o que nos foi deixando de sobreaviso. Mas, viu-se depois, levamos o equipamento básico necessário e suficiente.


A alvorada de domingo iniciou-se cedo: cerca das 6h30 da manhã, hora espanhola. O início do troço não ficava longe, mas havia que tomar um bom pequeno almoço, colocar comida e bebida q.b. nas mochilas de cada um e dar uma última vistoria ao equipamento, antes de nos fazermos à estrada.


O sol ainda não se vislumbrava no horizonte, mas já dava para perceber que o céu se apresentava bem nublado. Rolamos durante cerca de 2 a 3 kms em estrada asfaltada e eis que saímos da mesma, entrando em estrada de terra, seguindo as indicações dadas pelas tabuletas no caminho.


O dia ainda se apresentava naquele lusco-fusco matinal, onde se vislumbra o que está à nossa volta, mas ainda exige que os faróis do carro se mantenham ligados. Circulavamos a 30/40 km por hora, cuidando de evitar algumas pedras pelo caminho, quando, ao sair de uma curva deste caminho sinuoso e apertado, avistamos dois pequenos focos luminosos no meio da estrada de terra, apontados para nós. Demoramos um a dois segundos para perceber o que era...


"Olha um javali!"... O animal demorou o mesmo tempo que nós a perceber o que tinha pela frente, mas quando o percebeu, deu uma corrida rápida para fora da estrada e rapidamente desapareceu na vegetação alta e abundante que ladeava a estrada de terra. Aquele encontro inesperado prometia coisas boas para a caminhada...


Um pouco mais à frente deparamo-nos com o início do trilho: a estação de combóios de La Fregeneda. E à nossa espera tinhamos uma equipa de guias, a qual nos acolheu simpaticamente, nos distribuiu coletes refletores e uma lanterna de bolso para quem não veio preparado.


Imagem da estação desativada de La Fregeneda
Imagem de conversa inicial de guia com participantes

Também por eles fomos alertados para o que iríamos encontrar: ao longo do percurso atravessam-se 20 túneis - o maior dos quais com quase 1.600 metros de extensão - e transpõem-se 10 vertiginosas pontes metálicas, algumas delas construídas por engenheiros da escola de Gustavo Eiffel.


Sendo este um percurso linear extenso, no final do mesmo teríamos um guia com uma viatura de 9 lugares à nossa espera, para nos transportar de volta à estação de La Fregeneda e ao nosso carro. Previam fazer 3 viagens de ida-e-volta para transportar a totalidade dos caminheiros (pouco mais de 20).


Ao longo do trajeto estes guias iriam aparecer pontualmente (acedendo ao trilho por atalhos só por eles conhecidos) para nos dar maior segurança e cuidar de saber se alguém poderia precisar de algum tipo de apoio.


Imagem com detalhe do trilho a percorrer

Recebemos ainda uma forte recomendação: nos túneis a atravessar, principalmente no 1º e 3º, não deveríamos permanecer muito tempo no interior dos mesmos, nem deveríamos apontar as lanternas para cima. Porque era elevada a probabilidade de neles se albergarem morcegos, animais notívagos.


Após a palestra inicial dos guias, e depois de efetuadas as fotos da praxe, colocamos-nos ao caminho!



Note-se numa das imagens acima, a adaptação especial que fizeram a uma viatura: colocaram à frente e atrás um dispositivo que lhes permite conduzir a mesma em cima dos carris do caminho de ferro e, assim, percorrer o trilho em condições mais fáceis e rápidas, caso necessário.


Por volta do Km 1 deparamo-nos com o Tunel 1: La Carretera. O mais comprido de todos, com mais de 1,5 km de extensão, deu-nos uma boa primeira ideia do que estava para vir...



A caminhada pelo túnel foi efetuada em silêncio, apenas se ouvindo os passos dos caminheiros sobre as pedras, os carris e as tábuas que os unem.


Imagem do interior de túnel

Imagem da Ponte Pingallo

Ao km 2 encontramos a primeira ponte do trilho: a Ponte Pingallo. Com 11 mts de comprimento, situa-se 4 mts acima do rio Pingallo, o qual desagua no rio Águeda.


Mais 19 pontes nos esperam ao longo do trilho...


Ainda no início desta aventura, rapidamente percebemos que o trilho, muito embora não apresente uma inclinação acentuada ou obstáculos complexos, a verdade é que nos apresenta um percurso de quilómetros sobre duras pedras rugosas e afiadas, passíveis de resvalarem se o pé for mal assente.


Percebemos que seria necessário uma atenção permanente ao piso, aos espaços onde colocar os pés enquanto caminhavamos, ainda que não abdicando de olhar em volta e em frente para desfrutar da bela paisagem.


Imagem de carris do trilho Camino de Hierro

Surgem os primeiros raios de sol por detrás das colinas. A paisagem vai rapidamente mudar de cor, de tonalidades. O céu apresenta-se com algumas nuvens no horizonte, mas percebe-se que o sol vai ter oportunidade de brilhar sobre o trilho que percorremos.


Imagem dos primeiros raios de sol do dia
Imagem dos primeiros raios de sol sobre o rio

A vista sobre o rio Águeda é magnífica. O trilho acompanha o seu serpenteado em direção ao rio Douro.


Imagem dos primeiros raios de sol sobre o rio

As estruturas mistas de metal e madeira que ligam as encostas das montanhas, cortando caminhos, suavizando o percurso de combóios de outrora, são agora por nós percorridos.


Ainda que entusiasmados e maravilhados pela paisagem que se desvenda à nossa volta, mantemos sempre um elevado cuidado com o sítio onde colocamos os pés. Não é seguramente o melhor trilho para quem vertigens...


Imagem de carris de uma ponte do Camino de Hierro
Imagem de dois caminheiros sobre ponte do Camino de Hierro

Ao longo do trilho deparamo-nos com várias edificações em ruínas. Uma aqui... outra alí... vestígios da importância que este troço de caminho de ferro teve outrora, em que os combóios que o percorriam ligavam aldeias, vilas e cidades de uma região raiana, historicamente isolada.





Chegamos ao Tunel 2: Las Majadas, com um comprimento de 33 mts.



O Túnel 3: Morgado, com 423 mts, é o túnel mais 'especial' de todos. Ele alberga uma colónia de cerca de 12.000 morcegos, uma das mais numerosas de toda a Península Ibérica.


É um lugar tão precioso em termos da fauna e ecologia, que é muito respeitado e preservado. Por esse motivo, no início do Verão, em época de reprodução, o túnel permanece fechado e os caminheiros devem utilizar um caminho alternativo, sinalizado e habilitado para o efeito. Da mesma forma, deve-se apontar as lanternas sempre para o solo, para não perturbar os morcegos. É também um túnel curvo que faz com que o caminho-de-ferro siga em direcção a Portugal sem perder de vista o curso do rio Águeda.


Percorremo-lo em profundo respeito pelos seus habitantes: em silêncio, sem parar, apontando as lanternas para o chão. À medida que nos íamos aproximando do local onde se concentra a maior parte da colónia, o som emitido pelos milhares de morcegos era tal... que impressionava.


Atente neste vídeo e no som captado a partir do seg. 26:


Nota importante para quem pretender percorrer este trilho durante o presente ano: em 2024 o Túnel 3 estará encerrado ao público de 16 de março a 15 de agosto, para proteção da numerosa colónia de morcegos. Os caminheiros terão de percorrer um caminho alternativo que contorna este túnel.


E deixando para trás este carismático túnel, vamos percorrendo outros túneis...


Percorremos o Túnel 4: Poyo Rubio, com 84 mts de comprimento. E também o Túnel 5: La Belleza, com 76 mts, o Túnel 6: Poyo Valiente, com 358 mts, o Túnel 7: El Pico, com 46 mts de comprimento e o Túnel 8: Cega Verde, com 86 mts de comprimento.



E a beleza deste trilho não parou de nos surpreender. Ora vejam:



Os carris que nos trazem e nos levam... que nos levam e nos trazem... Para ir ao encontro de algo ou alguém?... Ou para receber algo e alguém que vem ao nosso encontro?...







A história desta linha está contada à nossa volta... basta estar atento.



E a flora deste local encantador também se manifesta de múltiplas e belas formas e cores:



Um lugar que se faz poesia aos nossos olhos e sentidos...



E que dizer deste quadro 'pintado' pelo Homem e pela Natureza à entrada do Túnel 11: Cega Viña, com 94 mts de comprimento?




Mais ou menos por esta altura da nossa caminhada, a chuva fez-se presente.


Inicialmente de forma tímida. Depois, durante alguns minutos (poucos) quis-nos mostrar que também faz parte desta paisagem diversificada e maravilhosa.


Mas sendo este um trilho repleto de túneis, nada como correr até ao mais próximo e aí aguardar por um tempo mais seco.





Mas continuamos a nossa caminhada... percorrendo ao km 11 o Túnel 15: Los Poyos, com 37 mts de comprimento.



A que se segue a Ponte de Los Poyos. Cerca de 11 kms percorridos... e 6 kms por percorrer...



No Túnel 16: La Porrera, com 330 mts de comprimento, o cansaço chegou.


Nada de mais, mas devemos estar atentos aos sinais do nosso corpo.


E nestas caminhadas, uns minutos de descanso, ingerindo líquidos e alguns alimentos, fazem maravilhas!


E com a satisfação de estarmos preste a cumprir os últimos kms de um percurso belíssimo, em pouco tempo percorremos os Túneis 17 e 18 e os dois últimos túneis do trilho: o Túnel 19: Las Almas, com 73 mts de comprimento e o Túnel 20: El Muelle, com 239 mts de comprimento.



Para terminar o percurso atravessamos a penúltima ponte do percurso: a Ponte El Embarcadero, com um comprimento de 11 mts. E deixamos por atravessar a - last but not least - a Ponte Internacional sobre o rio Douro, ligando Espanha a Portugal.



Depois de 6 horas de caminhada, tivémos a prometida viatura de 9 lugares, a qual nos levou de volta à estação de combóios de La Fregeneda e ao nosso carro. E, quase logo em seguida, iniciamos o caminho de volta a casa.


Mas trouxemos connosco a memória de muitas coisas bonitas e momentos bem passados!






Quer juntar-se a mim e a um pequeno grupo de ‘caminheiros’ e partir à descoberta destes trilhos? Ou de outros trilhos por esse país fora?


Então não hesite em contactar-me:


Marco Moura Marques

+351 967 035 966


78 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

1 comentario

Obtuvo 0 de 5 estrellas.
Aún no hay calificaciones

Agrega una calificación
Invitado
27 mar 2024
Obtuvo 5 de 5 estrellas.

Adoro este formato de newsletter, tão bonita e pedagógica, parabens!

Me gusta

Newsletter

Subscreva e receba mensalmente

Obrigado!

Logotipo Moura Marques

Moura Marques - Serviços e Negócios Imobiliários, Lda. 

NIPC 51704439 | Capital Social € 5.000

  • alt.text.label.Facebook
  • alt.text.label.Instagram
  • alt.text.label.LinkedIn
  • alt.text.label.YouTube

2023 © MOURA MARQUES

Powered by

Logotipo KW

IndigoLike - Mediação Imobiliária, Lda. | AMI 14081
Cada Market Center da Keller Williams é de propriedade e gestão independente.

bottom of page